
Diz a lenda que, há muito tempo atrás, as tropas romanas cercaram Monsanto durante sete terríveis anos.
Sem se renderem, os seus habitantes tinham sofrido muito e visto morrer muitos dos seus.
Ao velho chefe da aldeia, apenas lhe restava uma filha. Os seus irmãos tinham sido todos mortos pelo inimigo.
Queria que a sua filha fugisse e se pusesse a salvo com o seu rebanho, mas esta recusava heroicamente.
Perante a coragem da filha, o pai pediu-lhe para sacrificar o seu último rebanho e reparti-lo com os habitantes, uma vez que os alimentos escasseavam. Talvez assim conseguissem aguentar mais uma semana.
Essa semana passou e os soldados romanos aperceberam-se da trágica situação dos sitiados. Exigiram novamente a sua rendição.
Vendo o desespero do velho chefe, a filha pediu-lhe que não esmorecesse, pois ela ainda tinha guardado uma bezerra gorda que serviria para os salvar a todos.
Contou os seus planos ao pai, que os pôs logo em prática: chegou ao cimo das muralhas e, com uma segurança que a todos surpreendeu, gritou aos romanos que não se renderiam porque ainda tinham muita comida.
Como prova disso, atirou-lhes a bezerra.
Na tarde desse mesmo dia voltou a ouvir-se, de repente, a voz do cônsul Emílio, vinda lá de baixo, da planície. Mas já sem a arrogância habitual. Como que despeitada e aborrecida.
— Guardai as vossas outras bezerras, que nós um dia as viremos buscar… Agora, chamam-nos de Roma e já perdemos aqui demasiado tempo… Mas nós voltaremos!
Quase correndo, tropeçando aqui e além, louco de alegria, mal podendo acreditar no que seus ouvidos escutavam, o velho chefe voltou a subir ao mais alto do monte. E a gritar, numa renovação das próprias energias:
— Pois voltai, voltai, que nos encontrareis à vossa espera!… E haverá sempre uma bezerra a mais para vos oferecer!
Risadas fortes emolduraram as suas palavras. Porém, desta vez, não eram os soldados que riam: eram os sitiados, que rodeavam a jovem filha do velho chefe, dando largas à sua alegria e aos seus brados de vitória final!…
E assim, enganados pelo estratagema, julgando que os sitiados possuíam bastantes alimentos, os soldados romanos se retiraram…
Ainda hoje se comemora esta tradição em Monsanto — proclamada em 1938 «a aldeia mais portuguesa de Portugal»… No dia da festa (Festas da Divina Santa Cruz), os monsantinos, ao som de adufes e cantares, lançam das muralhas do velho castelo lindos cântaros enfeitados, que simbolizam a bezerra do cerco de Monsanto…