Um novo relatório da União Africana detalha casos de violação, tortura, mutilação e até canibalismo forçado na guerra do Sudão do Sul, que dura há quase dois anos.
O documento também contesta a versão do governo de que o conflito, que matou dezenas de milhares de pessoas e obrigou mais de dois milhões a deixarem as suas casas, começou após a tentativa de golpe do vice-Presidente Riek Machar, em dezembro de 2013, contra o Presidente, Salva Kiir.
«A comissão encontrou casos de violência sexual e de género por ambas as partes, praticados contra mulheres», diz o relatório. «Também documentou a crueldade extrema exercida através de mutilação de corpos, incineração de corpos e derramamento de sangue humano das pessoas que tinham acabado de morrer, e forçando outras, de uma comunidade étnica, a beber o sangue ou a comer carne humana queimada.»
Os investigadores, liderados pelo ex-Presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, apontam ainda que o conflito no país foi iniciado após uma luta entre os membros da guarda presidencial na capital, Juba, que foi seguida pelos assassínios de civis e soldados da etnia Nuer, organizados pelo governo. Kiir é do grupo étnico Dinka, enquanto Machar é um Nuer.
«Perante todas as informações reunidas pela comissão, as provas não apontam para um golpe de Estado», diz o relatório.
De acordo com o documento, centenas de homens Nuer foram baleados em Juba, enquanto os civis têm lidado com as consequências dos confrontos desde que estes entraram em erupção. A população que não está diretamente envolvida nas hostilidades é a maior vítima das atrocidades.
«Locais religiosos e hospitais foram atacados, a assistência humanitária foi bloqueada, cidades foram saqueadas e destruídas, locais de proteção foram atacados e houve testemunho do possível recrutamento de crianças com menos de 15 anos de idade», aponta o documento.
Por fim, o relatório conclui que os dois lados do conflito cometeram violações dos Direitos Humanos, mas que não há indícios de genocídio.