
Redação, 25 out (Lusa) – A fadista Débora Rodrigues definiu o novo álbum, “Fado no coração”, que inclui duetos com José Cid, Tozé Brito e Miguel Ramos, como “um contar de emoções e histórias de vida”.
O CD, a sair na próxima sexta-feira, é constituído por catorze faixas, entre elas, “Há quanto tempo não canto”, de Fernando Pessoa, que Débora Rodrigues gravou na melodia Fado Meia-Noite, de Filipe Pinto, e é o single de apresentação do álbum.
Em declarações à Lusa, a fadista afirmou que o título “é o mais apropriado”, e justificou em seguida: “Desde os nove anos que trago o fado no coração”.
“Não fui eu que escolhi, foi o fado que me escolheu, e quando isso aconteceu encontrei-me, tudo o que sentia e ansiava era cantado e tocado em muitos fados”, declarou, acrescentando que, apesar de ter antepassados no meio fadista, estes “não influenciaram escolhas ou direcionaram caminhos”.
Débora Rodrigues, natural de Porto Santo, começou na banda juvenil Onda Choc, e passou depois pelo teatro, onde o fado a tocou.
“Ouvi e senti-me profundamente atraída e, mais do que isso, como que capturada, pois encontrava ali tudo o que queria dizer, o que sentia. Não pude ser criança, daí sentir conforto no peso das palavras”, disse.Do novo álbum, o segundo a solo da carreira como fadista, Débora incluiu dois temas de sua autoria, “Lua carmim”, com música de Fernando Silva, que qualificou “como uma balada”, e “Amar-te”, que interpreta no Fado Licas, de Armando Machado.
Considera “uma ousadia e um ato de coragem” ter-se decidido a escrever, no que foi “muito apoiada” pelo músico Tó Moliças, falecido em junho do ano passado, e que aponta como “mestre e grande amigo” e que a acompanha neste CD na viola-baixo.
Do músico gravou o poema “À tua procura”, na música do Fado Santa Luzia, também de Armando Machado, e “Quadras de manjerico”, que canta na melodia do fado Marilena, de Jaime Santos Júnior.
De Moliças, que foi acompanhador de Amália Rodrigues, Débora Rodrigues guarda “os muitos conselhos”, e sente “uma falta constante, pois era um homem de saber e que nos apoiava de coração, e facilitador de processos, que resolvia tudo”.
Outro “professor” e “fadista incomparável”, que Débora Rodrigues referiu, é António Rocha, de quem neste CD gravou “Loucuras sim” e “Hino por nós”, ambos com música de Fernando Silva, sendo o segundo interpretado com José Cid.
“[José] Cid gosta muito de fado, e aceitou o convite para partilhar este tema, o que me encheu de alegria”, disse.
Outros dois intérpretes que convidou foi Tozé Brito, que não grava já há muito tempo, e com quem canta um tema com letra e música suas, “Era”, e Miguel Ramos com quem partilha a interpretação de “Chama-me doido uma doida”, de Carlos Conde, na música do Fado Bailarico, de Alfredo Marceneiro.
Referindo-se ao poema de Carlos Conde (1901-1981), a fadista referiu que “é uma letra masculina, mas o Tó Moliças tornou-o possível ser cantado por uma mulher, e foi ele mesmo quem alterou o poema sem o desvirtuar”.
Colocar este álbum no mercado “foi tarefa difícil”, disse à Lusa a fadista, que iniciou as gravações de “Fado no coração” há sete anos.
“Claro que quando agora voltei a gravar os temas, exigiu um esforço adicional, pois a voz muda e os tons em que cantamos necessariamente mudam, mas fiz questão de manter os instrumentais que estavam gravados, Fernando Silva, na guitarra portuguesa, Jaime Santos Jr., na viola de fado, e Tó Moliças, no baixo”.
O ‘ensemble’ de músicos inclui ainda os contrabaixistas Jorge Carreiro e João Lopes, o violoncelista Davide Zaccaria, o pianista Ernesto Leite e o guitarrista Rodolfo Godinho.